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A piscina de dentro e a piscina de fora (da série Sem Medo de Perguntar)

Até uma grávida com a cabeça totalmente desparafusada consegue responder esta:

– Onde é, onde é? Que a baleia fica mais feliz?

– Na água!

Inchada, engordada, pés deformados, encalorada e abandonada (ai, drama!) como estou, a piscina virou meu habitat natural. De vez em quando encalho lá dentro e não consigo subir a escadinha para sair. Daí chamo o guindaste marido pra me içar ou empurrar. Ou as duas coisas. Aqui faz muito calor e o excesso de tecido adiposo (também conhecido como GORDURA)  me deixa mais quente ainda. É como se tivessem ligado o forno do mundo e eu estivesse sozinha lá dentro, sendo tostada.

Só na piscina a sensações de inchaço, peso e calor desaparecem. Dentro d´água consigo fazer movimentos que são impossíveis do lado de fora (caminhar sem parecer uma marreca, por exemplo), então me sinto muito bem, como se estivesse leve novamente.  Me sinto uma verdadeira sereia Ariel (se bem que tô mais pra peixe-boi, mesmo, honestamente).  Às vezes não faço nada, só me enrosco na bóia e fico deitada de barriga pra cima olhando o céu e conversando com o bebê. “Nada aí dentro, que eu nado aqui fora, filhote. Faz nada aí, que eu faço nada aqui. Filho de peixe, peixinho é. Só não dá salto mortal triplo de novo pra não acertar a costela da mamãe outra vez.”

A água diminui a ansiedade, o inchaço e ajuda a passar o tempo. Se está sol, aproveito para bronzear os mamilos para ajudar na amamentação, conforme ensinou minha médica. O lado ruim é que abre ainda mais o apetite. O lado bom é que a piscina é ótima desculpa pra comer mais.

Interessante que quando resolvemos engravidar, meu marido e eu decidimos primeiro que seria legal trocar o apertamento por uma casa grande, com quintal e piscina. Mas não estávamos pensando na gente. Ok, mentira, não somos tãooooo paternais assim, pensamos na gente também, é claro. Mas nosso objetivo principal foi proporcionar ao nosso filho uma infância tão boa quanto à nossa: com espaço para correr, brincar, andar de bicicleta. Tá certo que a piscina da nossa infância era o tanque de lavar roupas. Em casa tinha um daqueles redondos, enormes, do tipo que não fabricam mais. Minha mãe enchia até o topo e meus irmãos e eu fazíamos revezamento pra brincar dentro da água. Havia também um dia ou outro em que a mangueira d´água era liberada por alguns minutos e a gente fazia uma festa no quintal. Depois finalmente compraram uma piscininha de plástico, que era mais apertada do que quitinete japonesa, mas na época a gente aproveitava como se fosse uma piscina olímpica

O que eu não imaginava ao mudar para cá é que meu filho passaria tanto tempo dentro da piscina antes mesmo de nascer. Só assim para suportar os últimos dias da gravidez. Sem exagero. Quando entro lá, não quero mais sair. Por isso fiquei aflita quando a Dri Viaro chamou a atenção para uma questão: e se a bolsa estourar enquanto estou dentro da piscina? Não vou perceber que o líquido escorreu e colocarei a vida do meu filho em risco? Para piorar, essa dúvida surgiu num dia em que eu havia sentido uma pontada na virilha (parecia cólica menstrual) pouco antes de entrar na água. E o bebê ficou bem menos agitado depois que saí da piscina. Aí fiquei encafifada: será que a bolsa rompeu lá dentro da piscina? Será que aquela pontada era a bolsa?

Comentei sobre isso com meu marido e ele decretou: não entra mais na piscina. Claro, concordei imediatamente. Melhor derreter a tarde toda no sofá do que não ter paz dentro da piscina. Mas então comecei a raciocinar (é, de vez em quando ainda pega no tranco) e a me perguntar: se a piscina é perigosa, por que a médica não proibiu a hidroginástica? Afinal, a bolsa pode romper na hora da hidro também.

A melhor coisa a fazer nessas horas é ligar para a médica, mesmo correndo o risco de pagar mais um mico grávido. Quando ela atendeu, já fui me defendendo explicando:

Olha, doutora, não sei se é dúvida de marinheira de primeira viagem, é que eu senti uma pontada e aí me falaram isso, de que a bolsa pode romper e eu não vou sentir…

Depois de ouvir o meu relato, ela respondeu calma e didaticamente (como sempre) que não havia perigo. Para o meu alívio (e dos meus deformados pés grávidos) a piscina está liberada (desde que haja sempre um guindaste por perto).  Ela disse que mesmo que a bolsa rompa lá dentro, quando eu sair da piscina vou continuar sentindo o líquido escorrer, morninho, diferente de tudo. E que as pontadas agora nesta fase final são normais. Acrescentou que não vai haver dor. “A bolsa vai estourar e pronto”. Então aquela dor não foi a bolsa. Hmmmm….

Pedi desculpa por ter ligado pra perguntar algo assim, mas já que ela estava ali tãoooo disponível e didática, aproveitei para fazer outra pergunta-de-primeira-viagem:

– Depois que a bolsa rompe, o bebê continua mexendo ou fica quietinho? Ele está um pouco mais quietinho desde ontem.

– O bebê continua mexendo normalmente. Se ele ficar muito quieto, coma alguma coisa doce, deite de barriga pra cima e espere. Se não houver movimento nenhum na próxima meia hora, me ligue ou vá direto para a emergência fazer um exame.

Amo essa médica! Libera os mergulhos e ainda manda eu comer doce. É o mundo perfeito desta grávida aqui: leve e solta dentro da piscina enquanto saboreio uma bomba de chocolate.  Ué, só adaptei as ordens médicas!

23 comentários 19/11/2009

Tão perto…tão longe

ampulhetaA expressão “estou esperando um filho”  faz muito mais sentido no último mês de gravidez. Agora é mesmo esperar. Só esperar. Parece que os dias  não passam. E ao mesmo tempo tenho a sensação de que tudo está veloz demais e acontecerá uma revolução na minha vida de uma hora para outra, totalmente fora do meu controle: pode ser a qualquer momento. São dias de expectativa, ansiedade, sustos. Para uma grávida de primeira viagem todo dia é o dia. Sei que ainda é cedo — pela conta da médica faltam 30 dias pelo menos. Mas então a cunhada fala que os três filhos dela nasceram todos 20 dias antes do previsto. “Os médicos sempre erram na conta no primeiro filho”. Tem também a vizinha simpática que coloca a mão na minha barriga, olha para o céu e diz com voz de profecia: “da próxima lua não passa”. E aquela dorzinha diferente na virilha…será que isso é uma contração?

Imaginação fértil não ajuda a grávida nessas horas. Já criei roteiros dignos de Hollywood para o momento do meu parto. A bolsa rompeu, não rompeu. A dor foi grande, não teve dor. Eu estava dormindo, estava acordada. Tinha acabado de comer uma tigela imensa de sucrilhos com leite e vomitei tudo a caminho do hospital. O trabalho de parto durou doze horas e pensei que ía morrer de tanta dor. Não senti quase nenhuma dor e tudo passou rapidinho. Foi no meio da madrugada e não consegui acordar meu motorista marido o suficiente para dirigir, chamei um táxi, nasceu dentro do táxi e virou manchete do jornal. Eu estava sozinha, dentro da piscina, não consegui subir a escadinha, marido chamou um guindaste e eu fui içada como uma baleia encalhada. Eu estava no Messenger com minha melhor amiga e escrevi “Amiga, acho que fiz xixi na calça”, então ela respondeu algo engraçado e eu quase pari de tanto rir. Enfim, o ócio obrigatório dos últimos dias tem me deixado com muito tempo livre para imaginar como será. Mas tenho certeza de que será de um jeito que nem imagino. O bonito deste  momento é a surpresa. E ninguém sabe os detalhes justamente para não ter perigo de estragar a festa.

Claro que tem quem tenta. Daí vem a história da “sua barriga está tão baixa, é a qualquer momento, hein?” Ouvi isso tantas vezes, de tantas mulheres diferentes, durante uma semana inteira, que decidi procurar minha médica. Ué, vai que ela é ruim de matemática que nem eu e ainda precisa fazer contas nos dedos? Daí somou tudo errado, escorregou um zero onde não tinha e eu já tô em trabalho de parto e não sei. Como é que eu vou saber que é a hora? Passo o tempo todo à procura de um sinal. Sinto uma dor aguda no canal vaginal. Na primeira vez pensei: “será que começou?” Mas não era nada disso. “É uma dor normal, é a pelve se alargando, é o corpo se preparando para a saída do bebê”. Olho a calcinha em busca de vestígios do famoso “tampão”. Imagino se a bolsa vai romper de uma só vez enquanto estou deitada no meu colchão novinho ou se vai acontecer no meio do corredor do supermercado, de uma forma bem constrangedora. Então descubro que também pode não acontecer: minha mãe não viu tampão nenhum nas gravidezes dela. Nem teve dor, dilatação, bolsa rompida, nada.

Além disso, mesmo que os cálculos da médica estejam certos, a verdade é que gravidez não tem data para nada: nem para começar, nem para terminar.  Não é ciência exata. A geração de uma nova vida é algo que acontece no prazo que cada ser precisa para estar pronto. E se esse dia for hoje? O que é essa pontada nas costas? Essa dor na virilha é trabalho de parto ou estou com gases?

A médica sorri, como sempre e explica que “barriga baixa” é normal. Diz ainda que é muita sorte eu ter esse formato de útero, essa disposição do ventre. Graças a isso, não terei falta de ar e provavelmente não sofrerei de azia. Verdade. Geralmente no último mês as gestantes reclamam muito de falta de ar. Deito de barrigão para cima, sinto o mini-eu chutando minhas costelas, mas ainda assim respiro normalmente. Também não tive azia.

Saio do consultório com um calendário em mãos, montado pela obstetra. Nele tem um dia marcado para a tal DPP (Data Provável do Parto). Ela explica que pode acontecer do bebê estar pronto 10 ou 15 dias antes e já mandar algum sinal. Ou pode vir 10 ou 15 dias depois. É que nem previsão do tempo. Eles não sabem se vai chover ou não então escrevem algo genérico do tipo: “sujeito a pancadas de chuva isoaldas”.

Cada gravidez é de um jeito e o grand finale é sempre um espetáculo único. Observo com certo alívio que a médica usa uma calculadora para fazer as contas.  “Relaxe e aproveite, vai sentir falta da barriga”.

Aliás, essa é outra frase que tenho ouvido muito agora na “reta final’. Todo mundo me avisa que sentirei falta da barriga. Terei o bebê no colo, ficarei radiante com isso, mas vou chorar de vontade de senti-lo dançando dentro de mim de novo. Acredito, pois já tenho saudade dela agora. Passo horas deitada conversando com o bebê, fazendo carinho nos pequenos “montinhos” que aparecem cada hora num lugar da barriga, quando o mini-eu se mexe. E como ele se movimenta! É muito ativo e participativo. Reage à música, às vozes, às minhas mudanças de humor. No banho cantamos juntos e também enquanto estamos no carro.

Os pés e pernas muito inchados me obrigam a ficar deitada a maior parte do tempo. Então aproveito para namorar minha barriga e observá-la atentamente. Digo o tempo todo ao bebê o quanto ele é amado, querido, planejado, esperado, idolatrado-salve-salve. Explico que estamos todos muito ansiosos, mas que ele deve ignorar quando o papai diz: “Vai, bebê, sai logo daí, tô louco pra ver você”. Aviso que ele só deve sair quando estiver prontinho. O bebê dá dois soquinhos como quem responde: “Tudo bem, mamãe, já saquei que papai é meio impaciente e precisamos aproveitar esta oportunidade para ensiná-lo a aprender a esperar o tempo certo das coisas”.

Às vezes o bebê fica impaciente também, parece procurar a saída.  Se vira de um lado para o outro dentro de mim, empurra minha barriga com tanta força que parece que a pele vai rasgar, como naquele filme do alien. Então aviso: “filho, não é pelo umbigo, eu garanto. Não adianta você erguer o umbigo da mamãe desse jeito, como se fosse a tampa de uma caixa.Calma. Continue procurando, um dia você acha a saída. Dica de mãe, amor: o buraco é mais embaixo”.

A ansiedade só piora as coisas na reta final da gravidez. Tem sido a fase mais difícil para mim. Não encontro posição para dormir, sinto muito calor, tenho dificuldade para levantar da cadeira, do sofá, da cama. Me sinto cada vez menos grávida e cada vez mais gorda. Meus pés e minhpesgrandesas pernas já amanhecem inchados. Uso meias e tenho sessões de drenagem linfática, mas esses recursos só atenuam o problema. Há duas semanas eles estão assim: constantemente inchados, não voltam ao “normal” de jeito nenhum.  Depois de meia hora em pé ou sentada, os pés começam a doer e fica difícil andar. O sapato número 36 não serve mais. Agora uso chinelos número 39, emprestados de uma amiga. Os dias são quentes, mas para mim parecem ainda mais. O canal vaginal dói. Algumas vezes estou deitada de um lado e preciso virar o corpo para o outro lado para levantar, mas não consigo sem ajuda, pois a barriga pesa muito. O bebê já tem quase 3 kg!

Engordei quase 20 kg já. Esse parece ser o motivo principal de quase todo o desconforto. O excesso de peso prejudicou a circulação, o intestino, provocou hemorroidas, inchaço nas pernas e nos pés, dificuldade para me locomover. Tenho a sensação de que para o bebê também está cada dia mais difícil. Ele tem menos espaço para se movimentar e “reclama” quando faço alguns movimentos ou fico tempo demais em pé.

Ao mesmo tempo, é tanta alegria, expectativa e felicidade pela chegada do bebê, que todo esse desconforto fica em segundo plano a maior parte do tempo. Olho aflita para meus pés deformados e penso: “é um preço pequeno a pagar para trazer ao mundo meu amor maior”. A família ajuda. Juntos fazemos piadas sobre minhas dificuldades. Se estou no sofá e quero levantar, alguém já grita: “a gravidinha encalhou de novo, alguém socorre lá”. Daí tenho um ataque de riso e a barriga entra num frenesi doido, subindo e descendo, chacoalhando o bebê, que ri junto comigo. É delicioso.

Meu irmão, pai de três, definiu essas agruras dos últimos dias de gravidez de forma nada poética, mas muito sensata. “A natureza é sábia”, ele disse. “Tudo fica difícil, dolorido e insuportável no final justamente para que a mãe queira o parto.  Se fosse gostoso, agradável e confortável, ninguém teria pressa em enfrentar as dores do parto. A mãe diria simplesmente: ‘Ah, tá tão bom assim, deixa o bebê mais um pouquinho aqui dentro, não tem problema’. Então a natureza deixou tudo difícil para a mãe e também para o bebê. Assim os dois trabalham juntos para acabar logo com isso.”

35 comentários 16/11/2009

O dia em que a grávida travou

Fui sair do carro e não consegui. Travei. Não conseguia ir pra frente, nem pra trás.  Tentei colocar uma perna para fora, mas uma dor aguda irradiou do rego em direção à coxa esquerda. Minha reação imediata foi recolher a perna. Doeu mais ainda. Então fiquei assim, sozinha, sentada no banco do carro, olhando para a parede da garagem, com uma perna para fora, à espera de um pouco de coragem para enfrentar a dor e levantar. Afinal, não poderia passar o resto do dia ali, naquela posição. Ou poderia? Olhei para os lados e vi a garrafa d´água que sempre carrego comigo, um pacote de biscoitos que havia comprado no caminho, um livro… Bom, talvez não fosse má ideia ficar ali imóvel durante algumas horas, até meu marido chegar e me tirar dali. Claro que cogitei isso por apenas alguns segundos. Era incômodo demais e, para piorar, eu estava com vontade de fazer xixi (como sempre).

Ok, colega, no três. E um…e dois…e dois e meio…e…

Quem depila a própria perna, virilha, buço.. ou o saco e as costas, no caso dos meninos, sabe o que eu senti. Foi igual ao momento em que a gente passa a cera, coloca o papelzinho (ou plástico) sobre a pele, segura a pontinha e precisa respirar fundo antes de puxar… Às vezes falta coragem. Se outra pessoa puxasse seria tão melhor.

Como numa depilação mal acabada fiquei ali cogitando: vou ou não vou?

Tentei sair devagar, mas a dor era muito forte e eu não conseguia vencer a barreira que ela criava. Acabava voltando para a posição anterior. Então levantei de uma vez só e dei um grito. Caminhei no melhor estilo Concurda de Notre Dame até o banheiro e fiz xixi praticamente em pé (na medida do possível), pois tinha medo de sentar e ficar travada lá na privada.

Sempre com dor, andando devagar e mancando, segui para a minha cama e lá fiquei até meu marido chegar. Só conseguia deitar de lado e não podia me mexer muito. Adormeci. Acordei uma hora depois com vontade de fazer xixi. Esqueci da coluna (bexiga de grávida sempre tem prioridade) e levantei de uma só vez. Gritei de dor. O ritual durou dois dias: deitada o tempo todo, com pausas apenas para ir ao banheiro e dificuldade imensa para sentar e comer alguma coisa.

No início da semana consegui uma consulta de emergência no ortopedista conhecido do meu irmão. Me apalpou, fez mil perguntas.

– É o cóccix. Provavelmente está trincado ou inflamado. Você levou algum tombo?

Não recentemente, pois fiquei muito cuidadosa na gravidez. Mas ao longo da minha trajetória foram vários: lavando banheiro, descendo escada, correndo em dia de chuva. Sou praticamente campeã da modalidade e a favorita do esporte nas Olimpíadas de 2016.

Seria preciso um raio-x pra confirmar. E remédios para amenizar a dor.

Não, de jeito nenhum, não pode remédio, não pode exame.

Então conviva com isso. Bolsa de água quente na região dolorida, um pouco de massagem podem aliviar (vai, marido, trabalha!) e fisioterapia. Receitou também uma cinta ortopédica específica para grávidas, que serve para aliviar a coluna (minha mãe apelidou de “barrigueira de égua”).

No dia seguinte decidi procurar uma segunda opinião. Apalpou, fez mil perguntas.

– É lombalgia. É comum na gravidez.

Deve ser uma lombalgia no cóccix trincado. E se eu procurasse uma terceira opinião acabaria diagnosticada com uma lombalgia ciática no cóccix trincado da quinta vértebra. Melhor parar de entrar em carro e sair de carro para ir ao médico e ficar quieta em casa.

Pelo menos em uma coisa os dois médicos concordaram: engordei demais e o sobrepeso pode ter desencadeado o problema ou simplesmente revelado um problema que já existia, mas eu não tinha me dado conta ainda. Diagnóstico: a gula da grávida estava pesando no lombo velho de guerra.

Agora ainda sinto um pouco de dor se fico tempo demais sentada ou em pé. Mas voltei a caminhar normalmente sem mancar. A boa notícia é que finalmente, agora na 31.a semana de gestação, consegui a desculpa perfeita para não fazer sexo e contratar uma faxineira. Não necessariamente nessa ordem. Arranjar uma faxineira é sempre mais importante que qualquer coisa.

16 comentários 19/10/2009

Cem gramas II, a missão

exercicioContinuo a divagar sobre o post Cem gramas (ou a Dança da Balança):

Quando engravidei pesava 60 kg. Não era nenhuma top model, mas as poucas gordurinhas estavam bem distribuídas. Tinha barriga tanquinho, coxas torneadas, bumbum sarado. Treze quilos a mais (e cem gramas…não vamos esquecer dos cem gramas!) em sete meses têm uma consequência direta e dolorida nas pernas, na circulação e nos ossinhos de uma vertebrada acostumada a carregar bem menos peso. Sem falar na falta de equilíbrio (emocional e físico).

Para me defender das broncas da médica (que esperava que eu engordasse 12 kg em 9 meses), desenvolvi muitas teorias e apresentei algumas para a minha obstetra-puxadora-de-orelha-de-grávidas-gordinhas.

>>> Pausa para um adendo

Tenho uma teoria sobre a obstetra também. Esbelta magrela como é, certamente ela tem raiva das pessoas carnudas e gostosinhas como eu. Aposto que sempre sonhou em ter estas coxas de mulher-melancia (melancia um tantinho “passada”, é verdade), estes peitos bovinos (existe vaquinos?) e esta anca de rinoceronte. Então a gente não pode levar muito a sério quando ela dá bronca por conta de inocentes quatro quilinhos (e cem gramas) a mais em um mês. Pessoa vingativa que é, ela dá bronca, critica a alimentação desta grávida esfomeada e ainda levanta suspeitas de doenças graves como diabetes gestacional falta de vergonha na cara.

A boa notícia é que a primeira foi descartada após a realização de um sádico exame durante o qual a vítima grávida  ingere um pote de açúcar e depois é furada seguidamente. A má notícia é que a segunda doença (falta de vergonha) não tem cura. Então meu acesso à sorveteria continua liberado. Já estou estudando com meus advogados um processo por danos morais e alimentícios contra o dono da sorveteria, um dos culpados pelos meus três quilos a mais no sexto mês de gestação e pelos quatro quilos (e cem gramas) a mais no sétimo mês. Se ganharmos a causa, vamos receber o pagamento todo em banana split.

Fim da pausa para o adendo<<<

Enfim, desenvolvi algumas teorias para justificar as mudanças estruturais (também conhecidas como “aumento rápido da gordura localizada” ou “como me tornei uma rolha de poço”) durante a gravidez:

1)  Projeto Arquitetônico

Sou muito “miudinha”. Ombros pequenos, cintura muito fina (acho que deveria ter escrito que eu era muito miudinha), pouco bumbum. De repente, este corpo miúdo deu de cara com a grata missão de gerar, alimentar e carregar um menino que, segundo os exames já mostraram, deve nascer com um peso e uma altura acima da “média”. Como esse trabalho está sendo realizado na região do abdômen, é natural que o corpo providencie um alargamento das bases (coxas, bundas, pernas e pés) da estrutura. Afinal, não é preciso ser um Niemeyer para entender que a base precisa ser proporcionalmente forte para suportar o peso que é colocado sobre ela. Então o que alguns chamam de gordura excessiva, eu prefiro(arquitetalmente falando) chamar de Processo de Ampliação da Base do Sistema Gestacional.

>> (A magra obstetra riu dessa teoria, mas acho que foi pra disfarçar o fato de que ela não entende nada sobre projetos arquitetônicos)

MulherPolvo

-2) Ritmo lento

Sempre fui muito dinâmica. Pessoa-polvo mesmo. Fazia mil coisas ao mesmo tempo. Trabalhava o dia todo, estudava e cuidava da casa. Conseguia, simultaneamente, passar roupa, falar ao telefone, estruturar um novo projeto no computador, cozinhar feijão, matar um pernilongo, depilar as pernas, tirar as cutículas, reclamar do calor, assistir à televisão, criticar os impostos (deixem minha poupança em paz) e monitorar a máquina de lavar roupa. Além disso, fazia caminhada e natação. Quando engravidei, a médica profetizou: deitarás e gerarás. Viu? Tudo culpa daquela magrela invejosa, de novo! Durante os três primeiros meses de gravidez, por sugestão dela, reduzi o ritmo. Não corri, não pulei, não passei rodo no chão da casa. Parei com os exercícios, ingeri vitaminas e ácido fólico. Os primeiros três meses da gestação são os mais frágeis, descanse e observe sua barriga crescer, disse a médica. Foi o que eu fiz. Deitei no sofá com um bom livro e alguns excelentes dvds e curti. Não! Ela não tinha orientado algo do tipo “aproveite que está em casa e abra a geladeira de meia em meio hora para atacar o pudim de leite condensado, o sorvete de manga e o leite gelado com cereal de chocolate”. Isso foi ideia minha! Mas é preciso frisar que em nenhum momento ela deixou claro que isso poderia ser prejudicial, ela nunca disse algo do tipo: “fique longe do sorvete de manga!”

Então eu pergunto: na minha inocência de grávida de primeira viagem, como eu poderia saber que aquelas doces criaturas que moravam na geladeira eram na verdade seres malignos dotados do poder de inchar coxas e bundas?

No final das 12 semanas de gestação, quando finalmente eu pretendia retomar as atividades cotidianas e cansativas como caminhada no parque e pilhas de roupas para passar, houve um sangramento e a médica recomendou repouso absoluto. Friso novamente que ela agiu de má fé ao não me avisar que repouso absoluto na casa da minha mãe significaria quinze dias deitada sendo cevada com os meus quitutes favoritos preparados pela melhor chef do mundo.

>> (Essa teoria também não convenceu minha cética e invejosa médica. Ela argumentou que eu engordei pouco nos primeiros quatro meses. O ganho de peso excessivo só foi registrado a partir do quinto mês, quando eu já havia retomado minhas atividades normais e iniciara a prática de exercícios físicos)

3) Exercício físico aumenta a fome

O argumento da médica em relação à minha segunda teoria abriu meus olhos. Claro: foi justamente quando comecei a fazer hidroginástica que meu apetite aumentou drasticamente e passei a engordar sem pudor (como se outrora tivesse tido algum). Fala aí: quem é que nunca ouviu dizer que atividade na água dá fome? Viu? Culpa da médica mais uma vez. Lá veio ela, envolta em seu modelito ajustado à cintura tamaho 38, dizer que seria ótimo se eu fizesse hidroginástica. Fui para a água pular que nem um peixe-boi peixe-vaca na Piracema, nadando contra a corrente, só pra exercitar todo músculo… e o que aconteceu? Fome triplicada. Em vez de “comer por dois”, depois das aulas passei a comer por três:  por mim, pelo bebê e pela professora de hidro, outra magricela vingativa que me faz andar de um lado para o outro na piscina durante quarenta minutos, sob berros de“mais rápido, mais força, ânimo”.

>> (Nem tive coragem de apresentar essa teoria à médica. Ainda resta alguma vergonha nesta carinha rechonchuda).

DietaSorvete4) Fui vítima de um complô!

Não tive enjoo, nem azia, nem vômitos. Todas essas coisas desagradáveis que impedem a grávida de comer. O que eu tive desde o início, e tenho até hoje, foi fome. Muita fome. Disfarçadas de amigas, mãe, cunhadas e sogra, as cúmplices da minha médica esquelética ficavam (e ainda estão aqui) à minha volta repetindo mantras gestacionais:

– você não está gorda, está grávida!

– você precisa comer por dois!

– depois que o bebê nascer você “perde” tudo rapidinho!

Conclusões do caso:

1)Fora de cogitação fazer dieta durante a gravidez, né? Meu bebê está forte e saudável graças à minha dedicação em nutri-lo diariamente com frutas, legumes, arroz integral, cereais, leite, sorvete, pudins, pães, empadinhas, esfirras e outros suprimentos calóricos. O jeito é seguir com a dieta, pois não posso modificá-la agora. Isso poderia causar um trauma grave no bebê. Ele pode decidir chutar meu estômago com muita força cada vez que eu me recusar a comer um danoninho ou um flan de chocolate.

2) Lá no início da gravidez, quando a médica disse que eu poderia/deveria engordar uns 12 kg no total durante toda a gestação, eu pensei:

– Gente, essa mulher é demais! Cheia de diplomas, super ocupada, profissional dedicada, e ainda encontrou tempo para desenvolver seu talento como comediante.

agora descobri que ela não estava contando piada.

bebefortesaudavel

4)A médica se revelou boa pessoa ao me tranquilizar. Minha maior preocupação com o excesso de peso era prejudicar o bebê ou a hora do parto.  Mas a obstetra garantiu que os quilos a mais não interferem em nada. Sem falar que minha pressão está sempre baixa. Meu bebê está saudável, perfeito e muito serelepe (mexe o tempo todo!!) e isso é o mais importante para mim. Então: tô nem aí, tô nem aí, tô nem aí…

41 comentários 06/10/2009

Cem gramas

InimigaMortal

Tirei essa foto aí acima na última consulta com a obstetra, há duas semanas. Hoje  a coisa deve estar certamente está bem pior – e mais pesada. Foi assustador ver esses números no visor da balança. Um mês antes ele havia mostrado quatro quilos a menos! Na mesma hora, desconfiada das reais intenções daquela balança sacana, perguntei em voz alta:

– Como é que pode uma pessoa engordar quatro quilos em um mês? E treze quilos em sete meses?

Ela respondeu aumentando cem gramas depois da vírgula. Inaceitável! Ladra! Bandida! Cretina! Dei um passinho bem curto para trás e o “dois” virou “um” novamente.  Como é que eu vou confiar numa balança que aumenta cem gramas quando a gente muda de lugar enquanto está em cima dela? Em vez de confiar, tentei usar aquilo a meu favor. Fiquei dançando sobre a balança pra pra ver se conseguia diminuir um pouco mais o peso denunciado pelo visor. Tentando encontrar um ponto que tirasse pelo menos um quilo. Mas ela só ía de 73,1 kg para 73,2 kg. E vice-versa. Ai, ser monótono! Só parei com aquele arrasta-pé ridículo em cima do aparelho quando me dei conta que havia uma grávida atrás de mim, esperando sua vez de enfrentar nossa inimiga mensal. Fui egoísta e não dividi com ela minha descoberta sobre a falha que permitia reduzir até 100 gramas. Não quis correr o risco de ser a única a levar bronca da obstetra (de novo!) naquele dia.

25 comentários 30/09/2009

E a gordura era gravidez

GordaOuGravidaUma jovem de 18 anos passou a gravidez inteira tentando emagrecer. Apelou para os vigilantes do peso e fez um monte de exercícios. Ela jura que não sabia que estava grávida, achava que o excesso de peso era problema de saúde. A bizarrice virou destaque na imprensa britânica e a colega de barriga Tatiana  reproduziu no seu blog, Esperando Alice,  uma das reportagens sobre a grávida sem-noção. É ler para crer (tem até foto).

7 comentários 10/09/2009

Doce exame amargo

A balança do consultório da minha obstetra é uma dedo-duro. Na semana emgravidabalanca4 que completei 22 semanas de gestação, a maquininha linguaruda me denunciou:  engordei 3 quilos em um mês.  Levei um susto.  A médica tratou de me assustar mais: “o que está acontecendo com você, ganho de peso rapidamente, muita sede e pernas inchadas, podem ser sintomas de diabetes gestacional“.

Recomendou que eu fizesse com urgência um exame de sangue chamado Curva Glicêmica. Já tinha ouvido falar que diabetes gestacional pode colocar a vida do bebê em risco e prejudicar a hora do parto. Comecei a chorar. “A culpa é toda minha, como doce demais, massas demais, não faço caminhadas como deveria…” Didática e paciente como sempre, a médica explicou que não era bem assim, que poderia ser genético ou simplesmente uma reação do meu organismo às mudanças hormonais. Ela falou que a grande quantidade de hormônios produzidos pela placenta gera resistência à ação da insulina no organismo da gestante. Em algumas grávidas, essa resistência é muito alta e aí ocorre o diabetes gestacional, que costuma aparecer por volta da vigésima quarta semana de gravidez.  Por isso mesmo quando não há sintomas, o médico pode pedir um exame para avaliar as taxas de glicose no oganismo da gestante.
O diabetes gestacional pode ocasionar várias complicações para o bebê, como peso elevado ao nascer, e para a mãe, que pode sofrer com pressão alta, aumento do risco de cesárea, eclampsia e desenvolvimento de diabetes após o parto. Quanto antes for detectado o problema, maiores as chances de não haver riscos para o bebê, nem para a mamãe. Se constatada a doença, a primeira providência é modificar a dieta alimentar da mãe.

Fui para a casa chateada. Não conseguia pensar em outra coisa. Estava com fome, mas sentia medo de comer alguma coisa que não fizesse bem para o bebê. É, na minha cabeça já estava tudo resolvido: eu tinha diabetes, teria de controlar a alimentação, meu mundo grávido e docinho havia caído.

Como sempre, a expectativa pelo exame virou um drama Almodovariano na minha cabeça. Sofrer por antecipação é praticamente um hobby para mim. Não que eu goste de ser assim, mas é uma daquelas características natas com as quais a gente é obrigada a conviver a vida toda, por que não há experiência de vida, terapia, nem Floral de Bach que resolva.

Todo mundo dizia que eu não tinha nada. Meu marido, minha mãe…eram unânimes: você não tem nada, você vai ver, esse exame não vai dar em nada. A certeza deles me deixava mais triste ainda. “Ninguém liga pra mim, estou doente e eles não se importam” (ai, TV Globo, olha o talento dramático que vocês estão perdendo aqui).

Eu falava do meu excesso de peso e todos diziam que não parecia que eu havia engordado. “Você está ótima! Não engordou muito, não! “ – ouvia dos parentes, amigos, vizinhos e até desconhecidos na fila do supermercado.

Nos três dias que antecederam o exame, passei a me alimentar melhor ainda do que antes. Cortei o excesso de carboidrato, eliminei totalmente os doces da dieta, comi mais frutas, grãos e legumes. O consumo de arroz integral – que era esporádico – passou a ser obrigatório. Fui uma grávida modelo naquele período. Sou fã de doces e ficar sem minha geleia preferida no café da manhã ou a fatia de bolo do lanche da tarde me deixou meio chateada. Mas eu só pensava na saúde do meu filho.

Grávida mascarada

michaeljacksonmascaraMeu marido nem queria que eu fosse fazer o exame. Ele estava com medo mesmo era de eu pegar alguma “doença de verdade” (era o que ele dizia) na sala de espera do laboratório de análises clínicas, um lugar que vive apinhado de gente com suspeita de todo tipo de moléstia (inclusive a famigerada Gripe A Suína).  A obstetra também alertou sobre esse perigo e orientou para que eu usasse máscara. Me senti meio Michael Jackson, pagando um mico danado com aquela máscara, mas resolvi não arriscar. Além disso, carreguei comigo um tubo de álcool gel para o laboratório na hora do exame.

Um doce exame

Jejum de oito horas para uma grávida esfomeada como eu já é um sacrifício. BebidinhadocMas o que veio depois foi ainda pior. Com uma agulha bem fininha, a enfermeira tirou um tubinho de sangue do meu braço direito, fez umas anotações e pediu que eu tomasse dois copos bem cheios de uma substância que era açúcar puro. Parecia um refresco desses em em pó, de saquinho, que geralmente é preparado na proporção de UM saquinho para cada DOIS litros de água. No exame a proporção deve ser algo como DEZ saquinhos para cada 200 ml de água. Pensa numa coisa doce. Agora pensa nessa coisa doce mergulhada num pacote de açúcar refinado. Tá quase perto…

– Não pode vomitar, hein? – disse a enfermeira.

Ao ouvir isso, quase não consegui tomar o segundo copinho, fiquei imaginando quantas grávidas haviam vomitado ali. Devia ser normal botar aquela calda açúcarada pra fora. Não vomitei até agora esta gravidez inteira, não é agora que vão me derrubar, né? Respirei fundo, fechei os olhos e virei de uma vez o segundo copinho, sentindo o açúcar bater no estômago vazio. A sensação foi de que minha boca inteirinha estava melada de tanto doce. Senti vontade de vomitar, ergui a cabeça e pensei no bebê. Pedi água, mas a enfermeira deu apenas um golinho, servido num copinho daqueles pequenos (de café) e avisou que eu não poderia beber água até o final do exame.

Olhei para ela atônita: – Tá brincando, né?

E quanto tempo mais ou menos vai durar este exame? – perguntou meu marido.

– Mais três horas. – respondeu a enfermeira e, em seguida, espetou meu outro braço para coletar mais uma amostra de sangue.

A partir daí, de tempos em tempos entrava alguém na sala para me espetar de novo. Além da sede, eu sentia muita vontade de fazer xixi. Quando a segunda enfermeira apareceu, perguntei se podia ir ao banheiro e ela disse que sim. Alívio! Cada ida ao banheiro era acompanhada por um ritual digno de quem sofre de TOC:  tudo para não encostar na maçaneta da porta, na torneira da pia, na tampa do vaso sanitário. E na volta para a sala de exame eu esfregava as mãos e os pulsos com álcool gel, apavorada. Tudo sem tirar a máscara.  Gravidez em tempos de gripe é uma paranóia.

Meu bebê, que acha que meu útero é trio elétrico da Bahia, começou a pular mais ainda (onde é que esse guri arranjou uma cama elástica???).  A enfermeira falou que as gestantes sempre relatavam o aumento da movimentação do bebê depois que ingeriam a substância super doce. E ainda tem gente que fala que o que a mãe come não influencia, nem afeta o bebê. O jejum e o açúcar derrubaram um pouco minha pressão, por isso fiquei deitada até o final do exame, observando a festa que acontecia dentro da minha barriga. Meu marido ficou sentadinho ao meu lado, com a mão sobre o meu ventre,  encantado com a coreografia saltitante do bebê, enquanto eu me controlava para não pular sobre o bebedouro no corredor. Sede…sede…sede.

Três novas espetadas nos braços depois e finalmente fui liberada para ir pra casa. Bebi quase um litro de água de uma vez. Depois, só pensava em comer alimentos salgados. O exame tirou minha vontade de doces durante uns dois dias. Via um doce e sentia um pouco de ânsia ao lembrar da “limonada” do exame. Fiquei com um pique danado o resto da manhã, plugada na tomada. Mas na hora do almoço alguém puxou o fio e eu desconectei. Uma moleza profunda tomou conta de mim. Parecia que estava dopada. Passei a tarde deitada, sonolenta e fadigada, com uma sede que não acabava nunca.

– Saia açúcar. Saia deste corpo que não te pertence!

Doce resultado

Passei o dia inteiro ansiosa para saber o resultado do exame, que foi VivaPassamosNoExamepublicado no site do laboratório naquela mesma noite. Aos meus olhos leigos, aqueles números pareciam muito bons. Mas não sou médica para interpretar exames de sangue e não sosseguei enquanto a obstetra não viu o resultado no dia seguinte e bateu o martelo: “está tudo bem”. Passei no exame com louvor. Meu organismo está metabolizando a glicose direitinho, sem faltar nenhum dia, inclusive feriados.

Fiquei tão feliz e aliviada. Queria abraçar alguém e nessa hora só me ocorria a imagem de uma pessoa: a dona da sorveteria do meu bairro. Meu filho está bem, eu estou bem e Kibon que eu posso comer doce sem restrições.

Enquanto meu marido, minha mãe e até o papagaio do vizinho diziam em coro: “viu, a gente falou que não era nada, que estava tudo bem”, eu só pensava em comemorar o resultado com um belo pote de sorvete, acompanhado de uma generosa fatia de bolo de chocolate com calda quente.

Leia mais sobre Diabetes Gestacional

32 comentários 23/08/2009

Isso é bobagem…

malas_sem_rodinhas

Malas sem rodinhas

Almoço de domingo. Grávida e sua mãe conversam sentadas na varanda, longe do tumulto dos adultos e da correria das crianças. Falam de tudo um pouco e acabam caindo no assunto do momento entre as duas: gravidez.

Filha: “Ai, mãe, tô engordando demais, você engordou assim nas gravidezes?”

Mãe: “Não engordei muito, não. Mas isso é bobagem…não se preocupe, você emagrece rapidinho depois do parto, principalmente se amamentar. Some tudo!”

Filha: “Ai, mãe, tô passando potes de creme e bebendo muita água que nem todo mundo ensinou, mas apareceram umas estrias logo acima do bumbum”

Mãe: “Não se importe com isso, amor…isso é bobagem…depois some tudo!”

Filha: “Ai, mãe, será que vou dar conta de amamentar? Quero tanto…Mas tenho medo de não saber fazer direito”

Mãe: “Filha, amor…isso é bobagem, você logo pega o jeito, é só fazer com amor e perseverança. Esse medo some…você vai ver..depois do parto, some tudo!”

Um dos primos se aproxima das duas, conversa um pouco e logo faz um trocadilho idiota com o nome escolhido para o bebê. Depois que ele se afasta, a mãe comenta:

“Isso é bobagem. Mas infelizmente, não some depois do parto” – (suspiro) – “Gente mala pra dar opinião, fazer piadinha e dizer asneira pra você sempre vai ter. Esse tipo de problema não some no final da gravidez”.

29 comentários 18/08/2009

Toneladas de silêncio

navioafundandoMarido: Como foi na hidroginástica hoje? Está gostando?

Grávida (eu): Muito bom! Estou adorando! Sabe o que é estranho? Eu não afundo.

Marido: Como assim não afunda?

Grávida: É..eu tento mergulhar, mas não consigo, é como se estivesse usando uma bóia inflável.

Marido ri: Ah, que isso, nada a ver.

Grávida: Sério. Falei para a professora e ela disse que na gravidez é assim mesmo, a gente bóia com facilidade. Engraçado, né?

Marido: Engraçado mesmo.

Grávida: E eu que pensei que com esses montes de quilos a mais eu ía afundar na hora em que entrasse n´água.

Marido lança olhar incrédulo e perde a chance de dizer algo carinhoso do tipo “que quilos a mais?você tá linda” e solta a pérola: Ai, amor, que bobagem, né? Pois se um navio tem muitas mais toneladas que você não afunda

Grávida lança olhar faiscante de raiva: ….

Marido já arrependido do que disse tenta consertar: Calma…calma..eu não quis dizer…olha só, toneladas é sobre o navio…você…ai, meu Deus, eu não posso falar mais nada…não faz cara de choro.angrybaby

Toneladas de silêncio.

22 comentários 11/08/2009

Sincera até demais

Sabe aquela sobrinha fofa que ficou com o primeiro lugar da minha lista de presentes de Natal deste ano após chamar meus cabelos brancos de mechas lindas? Pois é. Ela acaba de ser removida da lista de presentes.

Ela me viu de calcinha e sutiã hoje e não poupou sua sinceridade de criança:

– Nossa, tia, não sabia que você estava tão gordinha.

Dei a chance para a pequena se salvar e ainda garantir um bom lugar na lista do Natal e perguntei:

– Gordinha ou barrigudinha?

Ela deu uma boa olhada nas minhas coxas, bunda e barriga e respondeu sem titubear:

– As duas coisas, tia.

Até pensei em explicar o que é retenção de líquido e prisão de ventre, mas achei mais fácil simplesmente sorrir. Às vezes, quando a gente tenta argumentar muito, acaba ficando ainda mais enrolada. Ou ainda mais gordinha.

24 comentários 22/07/2009

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