Coceirinha

Parece que o bichinho de blogar tá querendo me picar de novo…

22 comentários 09/02/2011

Fechado pra (cadeira de) balanço

Sou mamãe. Este é o blog de uma ex-grávida. Estou encantada com o que está acontecendo e quando der volto pra contar. Obrigada por todo o carinho e votos de saúde e paz que tenho recebido. Não consigo ficar aqui na frente do computador. O melhor lugar da casa é a cadeira de balanço no quarto do meu filhote, olhando pra esse ser tão perfeito que suga meu peito e meu coração. Estou apaixonada!

77 comentários 04/12/2009

Ansiedade

Sobre O Tempo

(Pato Fu)

Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio

Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Como zune um novo sedã

Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai

Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final

Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio
Como zune um novo sedã

Tempo, tempo, tempo mano velho
Tempo, tempo, tempo mano velho
Vai, vai, vai, vai, vai, vai

Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada

Só me derrube no final…
Vai, vai, vai, vai, vai, vai

—————————————————————————————–

Essa é a música que toca dentro da minha cabeça enquanto zanzo pela casa, todas as noites, insone e gasosa, como uma alma penada tamanho GG. Em vez de correntes, arrasto meus pés gordos e inchados, enfiados nas sandálias velhas herdadas de uma amiga ex-grávida. Canso logo e deito de novo. Mas os pensamentos vêm todos de uma só vez até a minha cabeça. Me atacam como moscas varejeiras sobre uma manga madura caída no meio da grama.

Quando será? Como será? Vai doer? Estarei sozinha? Saberei que é a hora? Vai correr tudo bem? Meu bebê será perfeito? Saberei cuidar dele? Será que aquela camisola vai servir? Eu não devia ter comido aquela tigela de sorvete com granola por que se eu parir no meio da noite vou vomitar tudo. Ele vai ter cólicas? Como é mesmo que limpa o saquinho do bebê? Ainda bem que não é menina, todo mundo fala que limpar pererequinha é mais complicado. Será que é melhor depilar amanhã pra garantir? Será que eu coloquei calcinhas em número suficiente na mala? Eu derrubo tudo no chão, como é que vou segurar uma coisinha tão pequena e frágil? Que vontade de comer comida chinesa…aff…são 3h da manhã já…hmmm…será que alguém entrega nesse horário? Olha esses pés…olha esses pés… Ai, uma pontada, será que é… ah…era um pum… Nossa, esse cara na tv me lembra aquele ex-namorado…ainda bem que eu não casei com ele, já pensou um filho cabeçudo assim no parto normal? Quando será que vou fazer sexo de novo? Será que ele vai ter alguma alergia? Nossa, que ansiedade, será que é hoje? Pensando bem, aquela manta…hmm…melhor checar a mala do bebê…de novo. Será que ele é cabeludo? Ai, que céu lindo, muito lindo…será que é hoje? Tô com premonição…ou são gases? Será que ele vai mamar numa boa, sem problemas? Pensamento positivo…pensamento positivo…se concentra, só pensa em coisas boas para atrair coisas boas… Melhor imaginar o pior acontecendo, melhor ser realista, assim se acontecer o pior estarei preparada… Meu Deus, vou dormir, não aguento mais ver esse filme no Universal Channel, há 4 madrugadas só dá ele na programação. Que saudade eu vou ter desta barriga. Olha esses pés!!! Não tem ninguém no Messenger!  Será que ele vai ter cólicas? Como é mesmo que limpa o umbiguinho?

36 comentários 24/11/2009
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Sapatão de cristal

Observo com aflição e pesar aqueles que outrora foram chamados de pés e agora não passam de dois montes deformados lá embaixo, sustentando os quase 20 quilos a mais que ganhei na gestação.  Quando acordo eles já estão assim. Verdadeiras aberrações da anatomia grávida. Se está calor (e está sempre calor nesta Terra avacalhada pelo bicho-homem) ficam ainda em pior estado. Os tornozelos se fundiram à massa inchada dos pés e desapareceram sem deixar vestígios.  Não há notícias deles há quase um mês. Foram abduzidos pelo inchaço.

Apontados com horror e entre gritos de espanto pelas pessoas na rua, nas filas dos supermercados, nas festas da família e na sala de espera do consultório médico, meus pés bem que gostariam de se esconder, mas não há local fechado no qual possam se abrigar. Eles são obrigados a se exibir o tempo todo em um par de sandálias velhas e desbotadas, do estilo rasteirinhas, número 39, herdadas de uma amiga que sofreu do mesmo mal na gravidez (e sobreviveu). Assustados, meus pobres pés percebem que no fim do dia até as famigeradas e enormes rasteiras ameaçam ficar pequenas. É nessa hora que as tirinhas finas do calçado começam a entrar na carne gorda do tornozelo e no dorso elevado e lá deixam marcas profundas que denunciam ainda mais a deformidade. Nesse momento só resta aos meus intrépidos amigos arremessar as sandálias o mais longe possível e seguir a caminhada solitários, sem calçado, sem sola, sem luxo e sem glamour.

E no meio desse que deve ser o pesadelo de todo podólatra, meus pés, meus queridos pés que me aguentam o dia inteiroooo sonham com seus amados companheiros  sapatos número 36 que, por sua vez, aguardam ansiosos, trancafiados em suas caixinhas no closet pelo dia em que poderão novamente desfilar seus saltos, tiras e vernizes. Em vez disso, meus envergonhados pés vestem meias elásticas indicadas para pessoas que têm varizes. As meias são feias, quentes e difíceis de colocar, mas garantem algumas horas de conforto, mesmo que incapazes de cumprir sua missão de evitar o inchaço.

Ah, amigos pés. Tenho pena de vê-los assim: tão inchados e envergonhados de sua situação. Gostaria de afagá-los, massageá-los ou simplesmente espalhar sobre eles um pouco de creme hidratante. Mas há tempos mãos e pés já não se alcançam. Impedidos de se encontrar pessoalmente, apenas se cumprimentam de longe. Numa tentativa de diminuir a sensação de desprezo e abandono que tomou conta de meus companheiros pés, marco uma hora na renomada  pedicure do bairro. Mando amolar meu único melhor alicate de cutículas. Compro um creme especial de esfoliação. Na hora agendada, chegamos ao salão: meus deformados amigos e eu. É a primeira hora da manhã, mas meus amigos franksteins já provocam olhares espantados e comentários maldosos:

– Menina, como seus pés estão inchados! – (Não diga, eu nem tinha notado)

– Nossa, como é que você aguenta? (Eu não aguento, os pés é que me aguentam)

– Fica de olho na pressão: pés inchados assim sempre vêm acompanhados de pressão alta e significam problema grave. (Minha pressão é sempre baixa, o que isso significa, então, doutora-sabe-tudo?)

– Se já está assim a esta hora, imagina no fim do dia. (Não preciso imaginar, estou com meus pés o tempo todo e vejo o que acontece)

– Você sabe que os pés aumentam um número depois da gravidez? (Se é assim, minha mãe – que teve 4 filhos – calçava 30 quando engravidou a primeira vez?? Isso sim seria aberração)


A pedicure bem que tenta, mas não consegue fazer muito pelos meus inchados amiguinhos. Cada aproximação de um palito ou alicate gera um grito de dor e agonia. As unhas estão afundadas e quase desapareceram nas carnes dos dedos. É impossível fazer o trabalho sem arrancar um pedaço da massa gorda e  deformada. Um filete de sangue escorre pelo cantinho do dedão. Vencida pelo cansaço inchaço, desisto de tentar melhorar a aparência dos meus pães pés, volto para a casa e dou a eles algumas horas de descanso no alto de uma confortável almofada. Os gorduchos amiguinhos repousam agradecidos. Parecem confiantes de que voltarão – um dia –  a ser elegantemente conduzidos em belos scarpins, quando me ouvem dizer com voz terna e quase infantil:

Bebê amado: por você tudo isso vale a pena. E eu faria de novo, quantas vezes fosse preciso. Falta pouco agora para você sair daí.

Ouço quando tendões, ligamentos e músculos suspiram num indisfarçável alívio. Meus pés parecem inflar de tanta alegria ao ouvir a notícia: ah, falta pouco! A única coisa de que vão sentir falta é a massagem e os beijinhos que ganham de vez em quando do meu marido.  Coisa de príncipe, né? Mesmo que seja pra agradar uma princesa que não conseguiria, mesmo se quisesse, usar um sapatinho de cristal. Nem se fosse número 39. Afinal estes pés agora têm dorso número 42 ou 43.

33 comentários 22/11/2009
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A piscina de dentro e a piscina de fora (da série Sem Medo de Perguntar)

Até uma grávida com a cabeça totalmente desparafusada consegue responder esta:

– Onde é, onde é? Que a baleia fica mais feliz?

– Na água!

Inchada, engordada, pés deformados, encalorada e abandonada (ai, drama!) como estou, a piscina virou meu habitat natural. De vez em quando encalho lá dentro e não consigo subir a escadinha para sair. Daí chamo o guindaste marido pra me içar ou empurrar. Ou as duas coisas. Aqui faz muito calor e o excesso de tecido adiposo (também conhecido como GORDURA)  me deixa mais quente ainda. É como se tivessem ligado o forno do mundo e eu estivesse sozinha lá dentro, sendo tostada.

Só na piscina a sensações de inchaço, peso e calor desaparecem. Dentro d´água consigo fazer movimentos que são impossíveis do lado de fora (caminhar sem parecer uma marreca, por exemplo), então me sinto muito bem, como se estivesse leve novamente.  Me sinto uma verdadeira sereia Ariel (se bem que tô mais pra peixe-boi, mesmo, honestamente).  Às vezes não faço nada, só me enrosco na bóia e fico deitada de barriga pra cima olhando o céu e conversando com o bebê. “Nada aí dentro, que eu nado aqui fora, filhote. Faz nada aí, que eu faço nada aqui. Filho de peixe, peixinho é. Só não dá salto mortal triplo de novo pra não acertar a costela da mamãe outra vez.”

A água diminui a ansiedade, o inchaço e ajuda a passar o tempo. Se está sol, aproveito para bronzear os mamilos para ajudar na amamentação, conforme ensinou minha médica. O lado ruim é que abre ainda mais o apetite. O lado bom é que a piscina é ótima desculpa pra comer mais.

Interessante que quando resolvemos engravidar, meu marido e eu decidimos primeiro que seria legal trocar o apertamento por uma casa grande, com quintal e piscina. Mas não estávamos pensando na gente. Ok, mentira, não somos tãooooo paternais assim, pensamos na gente também, é claro. Mas nosso objetivo principal foi proporcionar ao nosso filho uma infância tão boa quanto à nossa: com espaço para correr, brincar, andar de bicicleta. Tá certo que a piscina da nossa infância era o tanque de lavar roupas. Em casa tinha um daqueles redondos, enormes, do tipo que não fabricam mais. Minha mãe enchia até o topo e meus irmãos e eu fazíamos revezamento pra brincar dentro da água. Havia também um dia ou outro em que a mangueira d´água era liberada por alguns minutos e a gente fazia uma festa no quintal. Depois finalmente compraram uma piscininha de plástico, que era mais apertada do que quitinete japonesa, mas na época a gente aproveitava como se fosse uma piscina olímpica

O que eu não imaginava ao mudar para cá é que meu filho passaria tanto tempo dentro da piscina antes mesmo de nascer. Só assim para suportar os últimos dias da gravidez. Sem exagero. Quando entro lá, não quero mais sair. Por isso fiquei aflita quando a Dri Viaro chamou a atenção para uma questão: e se a bolsa estourar enquanto estou dentro da piscina? Não vou perceber que o líquido escorreu e colocarei a vida do meu filho em risco? Para piorar, essa dúvida surgiu num dia em que eu havia sentido uma pontada na virilha (parecia cólica menstrual) pouco antes de entrar na água. E o bebê ficou bem menos agitado depois que saí da piscina. Aí fiquei encafifada: será que a bolsa rompeu lá dentro da piscina? Será que aquela pontada era a bolsa?

Comentei sobre isso com meu marido e ele decretou: não entra mais na piscina. Claro, concordei imediatamente. Melhor derreter a tarde toda no sofá do que não ter paz dentro da piscina. Mas então comecei a raciocinar (é, de vez em quando ainda pega no tranco) e a me perguntar: se a piscina é perigosa, por que a médica não proibiu a hidroginástica? Afinal, a bolsa pode romper na hora da hidro também.

A melhor coisa a fazer nessas horas é ligar para a médica, mesmo correndo o risco de pagar mais um mico grávido. Quando ela atendeu, já fui me defendendo explicando:

Olha, doutora, não sei se é dúvida de marinheira de primeira viagem, é que eu senti uma pontada e aí me falaram isso, de que a bolsa pode romper e eu não vou sentir…

Depois de ouvir o meu relato, ela respondeu calma e didaticamente (como sempre) que não havia perigo. Para o meu alívio (e dos meus deformados pés grávidos) a piscina está liberada (desde que haja sempre um guindaste por perto).  Ela disse que mesmo que a bolsa rompa lá dentro, quando eu sair da piscina vou continuar sentindo o líquido escorrer, morninho, diferente de tudo. E que as pontadas agora nesta fase final são normais. Acrescentou que não vai haver dor. “A bolsa vai estourar e pronto”. Então aquela dor não foi a bolsa. Hmmmm….

Pedi desculpa por ter ligado pra perguntar algo assim, mas já que ela estava ali tãoooo disponível e didática, aproveitei para fazer outra pergunta-de-primeira-viagem:

– Depois que a bolsa rompe, o bebê continua mexendo ou fica quietinho? Ele está um pouco mais quietinho desde ontem.

– O bebê continua mexendo normalmente. Se ele ficar muito quieto, coma alguma coisa doce, deite de barriga pra cima e espere. Se não houver movimento nenhum na próxima meia hora, me ligue ou vá direto para a emergência fazer um exame.

Amo essa médica! Libera os mergulhos e ainda manda eu comer doce. É o mundo perfeito desta grávida aqui: leve e solta dentro da piscina enquanto saboreio uma bomba de chocolate.  Ué, só adaptei as ordens médicas!

23 comentários 19/11/2009
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Tão perto…tão longe

ampulhetaA expressão “estou esperando um filho”  faz muito mais sentido no último mês de gravidez. Agora é mesmo esperar. Só esperar. Parece que os dias  não passam. E ao mesmo tempo tenho a sensação de que tudo está veloz demais e acontecerá uma revolução na minha vida de uma hora para outra, totalmente fora do meu controle: pode ser a qualquer momento. São dias de expectativa, ansiedade, sustos. Para uma grávida de primeira viagem todo dia é o dia. Sei que ainda é cedo — pela conta da médica faltam 30 dias pelo menos. Mas então a cunhada fala que os três filhos dela nasceram todos 20 dias antes do previsto. “Os médicos sempre erram na conta no primeiro filho”. Tem também a vizinha simpática que coloca a mão na minha barriga, olha para o céu e diz com voz de profecia: “da próxima lua não passa”. E aquela dorzinha diferente na virilha…será que isso é uma contração?

Imaginação fértil não ajuda a grávida nessas horas. Já criei roteiros dignos de Hollywood para o momento do meu parto. A bolsa rompeu, não rompeu. A dor foi grande, não teve dor. Eu estava dormindo, estava acordada. Tinha acabado de comer uma tigela imensa de sucrilhos com leite e vomitei tudo a caminho do hospital. O trabalho de parto durou doze horas e pensei que ía morrer de tanta dor. Não senti quase nenhuma dor e tudo passou rapidinho. Foi no meio da madrugada e não consegui acordar meu motorista marido o suficiente para dirigir, chamei um táxi, nasceu dentro do táxi e virou manchete do jornal. Eu estava sozinha, dentro da piscina, não consegui subir a escadinha, marido chamou um guindaste e eu fui içada como uma baleia encalhada. Eu estava no Messenger com minha melhor amiga e escrevi “Amiga, acho que fiz xixi na calça”, então ela respondeu algo engraçado e eu quase pari de tanto rir. Enfim, o ócio obrigatório dos últimos dias tem me deixado com muito tempo livre para imaginar como será. Mas tenho certeza de que será de um jeito que nem imagino. O bonito deste  momento é a surpresa. E ninguém sabe os detalhes justamente para não ter perigo de estragar a festa.

Claro que tem quem tenta. Daí vem a história da “sua barriga está tão baixa, é a qualquer momento, hein?” Ouvi isso tantas vezes, de tantas mulheres diferentes, durante uma semana inteira, que decidi procurar minha médica. Ué, vai que ela é ruim de matemática que nem eu e ainda precisa fazer contas nos dedos? Daí somou tudo errado, escorregou um zero onde não tinha e eu já tô em trabalho de parto e não sei. Como é que eu vou saber que é a hora? Passo o tempo todo à procura de um sinal. Sinto uma dor aguda no canal vaginal. Na primeira vez pensei: “será que começou?” Mas não era nada disso. “É uma dor normal, é a pelve se alargando, é o corpo se preparando para a saída do bebê”. Olho a calcinha em busca de vestígios do famoso “tampão”. Imagino se a bolsa vai romper de uma só vez enquanto estou deitada no meu colchão novinho ou se vai acontecer no meio do corredor do supermercado, de uma forma bem constrangedora. Então descubro que também pode não acontecer: minha mãe não viu tampão nenhum nas gravidezes dela. Nem teve dor, dilatação, bolsa rompida, nada.

Além disso, mesmo que os cálculos da médica estejam certos, a verdade é que gravidez não tem data para nada: nem para começar, nem para terminar.  Não é ciência exata. A geração de uma nova vida é algo que acontece no prazo que cada ser precisa para estar pronto. E se esse dia for hoje? O que é essa pontada nas costas? Essa dor na virilha é trabalho de parto ou estou com gases?

A médica sorri, como sempre e explica que “barriga baixa” é normal. Diz ainda que é muita sorte eu ter esse formato de útero, essa disposição do ventre. Graças a isso, não terei falta de ar e provavelmente não sofrerei de azia. Verdade. Geralmente no último mês as gestantes reclamam muito de falta de ar. Deito de barrigão para cima, sinto o mini-eu chutando minhas costelas, mas ainda assim respiro normalmente. Também não tive azia.

Saio do consultório com um calendário em mãos, montado pela obstetra. Nele tem um dia marcado para a tal DPP (Data Provável do Parto). Ela explica que pode acontecer do bebê estar pronto 10 ou 15 dias antes e já mandar algum sinal. Ou pode vir 10 ou 15 dias depois. É que nem previsão do tempo. Eles não sabem se vai chover ou não então escrevem algo genérico do tipo: “sujeito a pancadas de chuva isoaldas”.

Cada gravidez é de um jeito e o grand finale é sempre um espetáculo único. Observo com certo alívio que a médica usa uma calculadora para fazer as contas.  “Relaxe e aproveite, vai sentir falta da barriga”.

Aliás, essa é outra frase que tenho ouvido muito agora na “reta final’. Todo mundo me avisa que sentirei falta da barriga. Terei o bebê no colo, ficarei radiante com isso, mas vou chorar de vontade de senti-lo dançando dentro de mim de novo. Acredito, pois já tenho saudade dela agora. Passo horas deitada conversando com o bebê, fazendo carinho nos pequenos “montinhos” que aparecem cada hora num lugar da barriga, quando o mini-eu se mexe. E como ele se movimenta! É muito ativo e participativo. Reage à música, às vozes, às minhas mudanças de humor. No banho cantamos juntos e também enquanto estamos no carro.

Os pés e pernas muito inchados me obrigam a ficar deitada a maior parte do tempo. Então aproveito para namorar minha barriga e observá-la atentamente. Digo o tempo todo ao bebê o quanto ele é amado, querido, planejado, esperado, idolatrado-salve-salve. Explico que estamos todos muito ansiosos, mas que ele deve ignorar quando o papai diz: “Vai, bebê, sai logo daí, tô louco pra ver você”. Aviso que ele só deve sair quando estiver prontinho. O bebê dá dois soquinhos como quem responde: “Tudo bem, mamãe, já saquei que papai é meio impaciente e precisamos aproveitar esta oportunidade para ensiná-lo a aprender a esperar o tempo certo das coisas”.

Às vezes o bebê fica impaciente também, parece procurar a saída.  Se vira de um lado para o outro dentro de mim, empurra minha barriga com tanta força que parece que a pele vai rasgar, como naquele filme do alien. Então aviso: “filho, não é pelo umbigo, eu garanto. Não adianta você erguer o umbigo da mamãe desse jeito, como se fosse a tampa de uma caixa.Calma. Continue procurando, um dia você acha a saída. Dica de mãe, amor: o buraco é mais embaixo”.

A ansiedade só piora as coisas na reta final da gravidez. Tem sido a fase mais difícil para mim. Não encontro posição para dormir, sinto muito calor, tenho dificuldade para levantar da cadeira, do sofá, da cama. Me sinto cada vez menos grávida e cada vez mais gorda. Meus pés e minhpesgrandesas pernas já amanhecem inchados. Uso meias e tenho sessões de drenagem linfática, mas esses recursos só atenuam o problema. Há duas semanas eles estão assim: constantemente inchados, não voltam ao “normal” de jeito nenhum.  Depois de meia hora em pé ou sentada, os pés começam a doer e fica difícil andar. O sapato número 36 não serve mais. Agora uso chinelos número 39, emprestados de uma amiga. Os dias são quentes, mas para mim parecem ainda mais. O canal vaginal dói. Algumas vezes estou deitada de um lado e preciso virar o corpo para o outro lado para levantar, mas não consigo sem ajuda, pois a barriga pesa muito. O bebê já tem quase 3 kg!

Engordei quase 20 kg já. Esse parece ser o motivo principal de quase todo o desconforto. O excesso de peso prejudicou a circulação, o intestino, provocou hemorroidas, inchaço nas pernas e nos pés, dificuldade para me locomover. Tenho a sensação de que para o bebê também está cada dia mais difícil. Ele tem menos espaço para se movimentar e “reclama” quando faço alguns movimentos ou fico tempo demais em pé.

Ao mesmo tempo, é tanta alegria, expectativa e felicidade pela chegada do bebê, que todo esse desconforto fica em segundo plano a maior parte do tempo. Olho aflita para meus pés deformados e penso: “é um preço pequeno a pagar para trazer ao mundo meu amor maior”. A família ajuda. Juntos fazemos piadas sobre minhas dificuldades. Se estou no sofá e quero levantar, alguém já grita: “a gravidinha encalhou de novo, alguém socorre lá”. Daí tenho um ataque de riso e a barriga entra num frenesi doido, subindo e descendo, chacoalhando o bebê, que ri junto comigo. É delicioso.

Meu irmão, pai de três, definiu essas agruras dos últimos dias de gravidez de forma nada poética, mas muito sensata. “A natureza é sábia”, ele disse. “Tudo fica difícil, dolorido e insuportável no final justamente para que a mãe queira o parto.  Se fosse gostoso, agradável e confortável, ninguém teria pressa em enfrentar as dores do parto. A mãe diria simplesmente: ‘Ah, tá tão bom assim, deixa o bebê mais um pouquinho aqui dentro, não tem problema’. Então a natureza deixou tudo difícil para a mãe e também para o bebê. Assim os dois trabalham juntos para acabar logo com isso.”

35 comentários 16/11/2009
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Por todos os buracos

RemediosGravidaChegaram milhares dezenas de emails, bilhetes, tuitadas, torpedos, scraps e sinais de fumaça com a mesma pergunta que não quer calar: qual é o nome do bendito fitoterápico que desentupiu meu  fiofó (não sabe do que estou falando? Leia aqui). Aviso aos navegantes da web: sou contra a auto-medicação, principalmente na gravidez. Mesmo um composto natural pode ser perigoso. Cada caso é um caso e o que faz bem para um pode fazer mal para o outro. Por isso: não tomem remédio (nem mesmo fitoterápico) sem o conhecimento do obstetra! O nome do medicamento indicado pela minha médica  é PlantaBem: uma caixa com 30 envelopes custa cerca de R$ 50 aqui.  Tomo o conteúdo de um envelope após cada uma das três principais refeições do dia .

Esse é só um dos compromissos medicamentosos da minha rotina. Sempre tive resistência a tomar remédios e não imaginava que justamente na gravidez me tornaria uma espécie de hipocondríaca, ainda que contra minha vontade. Ao longo da gravidez a conta da farmácia só fez aumentar e tomar todos os buracos do meu corpo grávido.

Pelo buraco da boca:

Primeiro veio o ácido fólico. Receitado pela médica no dia em que anunciei que pretendia engravidar. Um comprimidinho uma vez por dia. Ela disse que suspenderia o uso após o primeiro trimestre de gravidez, mas após o sangramento, decidiu mantê-lo até o final da gestação.

Depois veio a cápsula de polivitamínico. É uma pílula grande. Uma vez por dia também.

Pelo buraco da área de lazer:

Depois do sangramento, a médica receitou uma cápsula de hormônio (progesterona) todas as noites, antes de dormir. Não tem aplicador, nem nada. Pego o comprimidinho gelatinoso com a mão, enfio na vagina e empurro com o dedo, o mais fundo possível. Não se iluda, a coisa não é divertida como pode parecer. Depois o corpo absorve o que interessa e passa o resto do dia seguinte jogando fora o que não foi aproveitado (uma gosminha branca, meio leitosa, que parece corrimento, mas na verdade é o revestimento da cápsula gelatinosa). Ou seja: ao contrário do que eu pensava, a gravidez não serviu para eu me livrar dos absorventes.

Pelo buraco do fiofó:

Uma pomada que alivia os problemas e dores causados pelas hemorroidas. A caixa do medicamento vem com bisnaguinhas e aplicadores individuais. O paciente deve introduzir o aplicador no c* e apertar a bisnaguinha até que toda a pomada tenha entrado no fiofó. Agora imagina fazer isso com uma só mão,  se contorcendo de um jeito que não machuque a barrigona e tentando evitar que a pomada meleque tudo à sua volta. Diversão garantida.

Efeito Dominó

De acordo com a bula e a médica, a vitamina e o ácido fólico contribuíram para a prisão de ventre, o que ocasionou hemorroidas e, consequentemente, a necessidade de mais medicamentos (o fitoterápico regulador de intestino e a pomadinha no fiofó).

Se uma coisa leva a outra, nem quero imaginar que tipo de remédio logo terei de enfiar pelo nariz, o único buraco poupado até agora nesta gravidez.

Pois pelos buracos dos ouvidos já entrou cada droga: conselhos inúteis, críticas, histórias pavorosas de partos dolorosos e de bebês que tiveram cólicas todas as madrugas dos primeiros três meses de vida. Mas isso foi antes de eu descobrir o filtro gestacional.

22 comentários 07/11/2009
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Grávida é ímã de criança birrenta

birraBebês deveriam vir com manual de instruções. Do tipo que acompanha um CD-Rom explicativo, que agregaria ainda exemplos sonoros de variedades de choros, para auxiliar pais de primeira viagem a entender o que os pequenos querem quando abrem o berreiro. Um dos capítulos que mais me interessariam no manual seria,  sem dúvida, o que explicasse o porquê das birras e me ensinasse uma fórmula eficiente para lidar com elas e eliminá-las. Desde que fiquei grávida parece que virei ímã de criança birrenta. Elas estão por toda parte. Nas filas dos cinemas, nas farmácias, nas ruas, nos estacionamentos dos shoppings, nas pracinhas e sorveterias. Algumas delas são fortemente atraídas até a minha casa e fazem seu show no meu quintal ou na minha sala, para o desespero das minhas cunhadas e amigas. Geralmente a birra das crianças delas acontece no momento em que elas estão me ensinando TU-DO sobre a maternidade. Afinal, sou grávida de primeira viagem e tenho muito a aprender com as experientes mamães que me cercam.

Mas é supermercado que acontecem os piores encontros com crianças birrentas. Sempre que empurro vagarosamente o carrinho lotado de coisas saudáveis (vai acreditando…) pelos corredores, acabo dando de cara com pelo menos uma situação assustadora.  Na maioria das vezes os pequenos terroristas estão jogados no chão e gritam-berram-grunhem coisas como “eu queeeeroooo!” e até “teeee odeeeeioooo” para pais atônitos e visivelmente envergonhados. Meu primeiro pensamento é “tomara que meu filho não seja assim!“. Mas no fundo eu sei que preciso estar preparada, pois dificilmente escaparei de uma experiência como essa.

Antes de engravidar, CONFESSO, julguei algum desses pais. “Que mulher mole, por que não dá logo uma bronca no filho?”, “Olha que absurdo, a criança dominando o adulto e conseguindo o seu precioso pacote de biscoito recheado”. Depois que fiquei grávida adotei a regra: não julgue o que não conhece. É que foi aí que entendi que não devemos cuspir pra cima, pois pode cair no nosso olho.

Não encontrei o tal precioso manual de instruções, mas achei algo muito próximo do meu sonho de consumo: uma lista com dicas incríveis sobre como lidar com situações de birra. Já salvei e guardei aqui no computador, pois sei que poderão ser bem úteis num futuro não muito distante.  As dicas estão no blog O Astronauta, da Flavia. Uma leitura recomendada para papais, mamães e afins.

13 comentários 04/11/2009
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Sem saída (o caso do fiofó entupido)

cadeadoSabe aqueles comerciais de TV que mostram iogurtes, suplementos naturais, benzedeiras e talismãs que prometem “um intestino que funciona como um relógio”? Sempre me causaram um misto de angústia, alegria e descrençaAngústia pela vergonha alheia que sentia ao ver atores, diretores e outros profissionais envolvidos na cômica e difícil tarefa de vender um produto que garante ao consumidor a certeza de cagar com hora marcada.

Alegria pelas risadas que algumas propagandas conseguiam provocar em mim – e em outros telespectadores, bem sei – ao apresentar o assunto. Como o tema é, digamos, assim…meio “preso”, fazem de tudo para tratá-lo com humor e a coisa acaba ficando meio ridícula.

Descrença na eficácia do produto e na existência de gente tão entupida e desesperada quanto aqueles atores mostrados nas propagandas. Não dava pra acreditar que alguém realmente tivesse tanta dificuldade para sentar lá no vaso sanitário, abrir o desktop, esvaziar a lixeira e clicar na descarga. A não ser que fosse algum sujeito com uma grave doença no intestino, o que não justificaria tomar litros de iogurte, mas sim procurar um médico.

Paguei minha língua. E paguei com o c*. Se eu acreditasse em castigo divino ou na lenda de que algumas pessoas tem poder de rogar pragas nas outras, explicaria de forma esotérica o meu fiofó entupido a partir da 30.a semana de gestação.  Não que antes da gravidez eu fosse o tal “reloginho” da propaganda, mas “cagar ou não cagar” nunca foi “eis a questão” na minha vida. Era tão normal quanto tomar água ou puxar o freio de mão ao estacionar o carro. Coisa mecânica do dia a dia, que eu fazia sem prestar atenção. Bem diz o ditado que a gente só dá valor ao que tem depois que perde. E o poder de dar uma boa cagada antes de ir dormir é algo que a gente precisa valorizar, gente amiga!

Desconhecia a importância do assunto. Se ri dos entupidos, se zoei as propagandas de laxantes e iogurtes milagrosos, foi por pura ignorância. Só agora, aos 35 anos de experiência cagona (que começou com mecônios tímidos na década de 70, nas fraldinhas de pano que mamãe lavava) me dou conta de como o assunto “intestino” é constrangedor para a maioria das pessoas, inclusive para mim. Ao lavar o fiofó, senti com as pontas dos dedos que havia alguns carocinhos naquela área. Imagina o susto.

Passei um dia angustiada com aquilo, queria ligar pra médica mas não sabia por onde começar a explicação. Então procurei a ajuda da pessoa que melhor me conhece: por dentro e por fora. Por cima e por baixo. Na frente e atrás. Da perseguida ao fiofó. Aliás, ela até já havia passado talquinho no meu bumbum, antes da prática ser condenada, lá nos tempos dos alfinetes gigantes:

“Tô com bolinhas no c*, falei pra minha mãe.

Alívio quando mamãe sabe-tudo explicou que era normal. Pânico quando ela engatou no papel de enciclopédia materna e deu nome pra´quele fenômeno: “São hemorróidas, algumas mulheres tem isso na gravidez. Eu mesma tive, mas sumiram depois do parto”. Mais pânico quando ela disse que em alguns casos a coisa complica e uma prima havia até passado por uma cirurgia pra resolver o problema.  Imaginei num futuro não muito distante meu destino de humilhação:  uma sala de cirurgia, minha bunda pelada, arreganhada e erguida e um bando de médicos costurando meu fiofó. Pânico master blaster.

gravidabanheiroMas nem assim consegui ligar pra médica. Mamãe aconselhou e eu aumentei a ingestão de fibras e água. Comprei litros do tal iogurte que prometia desentupir minha saída. Nada adiantou. Uma semana depois tive consulta com a obstetra e fiquei surpresa com a minha dificuldade em falar do assunto. Aquela mulher já havia me visto pelada, já havia enfiado até a mão na minha vagina, daqui a algum tempo vai trazer meu filho ao mundo… e eu ali com vergonha de falar que tinha uns carocinhos no fiofó. Parecia que a garganta ( não o c*) estava entupida. Tá certo que o fiofó é feinho demais, tadinho. E faz um serviço que não cheira nada bem. Mas o assunto era importante, eu sentia dor e aquela situação estava atrapalhando minha vida. Mesmo assim a reclamação não saía. Dei algumas voltas até conseguir chegar ao assunto e falei baixinho, olhando para o lado:

– Acho que estou com uns…umas…é….alguma coisa…lá…(comicamente apontei para trás com o dedão) sabe… minha mãe falou que é normal, que ela teve, que sarou depois, que chamam de…é…acho que é…são …ahn…hemorróidas.

Achei que a notícia teria um impacto tremendo sobre a médica. Fiquei esperando uma mexida incomodada na cadeira ou uma pigarreada para disfarçar o constrangimento.

Sangra?

Lembra o pânico mega blaster? Foi promovido a chefe e demitiu todos os meus pudores:

– Essa porcaria pode sangrar, doutora????

Depois de um verdadeiro tratado sobre o que são hemorróidas, o tratamento, as possíveis complicações e a necessidade de manter o fiofó em ordem para a hora do parto normal, a médica prescreveu um medicamento fitoterápico para auxiliar no funcionamento do intestino e uma pomadinha que deve ser aplicada no fiofó toda noite, antes de dormir. Tudo de uso permitido na gravidez.

Meio sem graça, entreguei a receita médica ao marido. Um gentleman. Não fez perguntas. Mas deixou claro que estava por dentro do problema na saída do esgoto: junto com os remédios, trouxe também ameixas, aveia e mamão para a casa.

O fitoterápico fez efeito quase imediato e eu voltei a sorrir e a cantar. DesentupidaPassei a ver o mundo com outros olhos se é que você me entende.

Não dou mais risada dos comerciais de tv. Fico emocionada com eles, num sentimento de solidariedade aos que enfrentam congestionamentos gigantescos e horas eternas e suadas no banheiro. E um viva às ameixas! Hip hip hurra!!

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Saiba mais sobre o assunto no site do Dr. Drauzio Varella

28 comentários 01/11/2009
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Não sou uma grávida alienígena

Tive um certo receio de publicar o post anterior (sobre minhas encanações e limitações na hora do sexo). Achei que seria apedrejada. Daí pensei: “sou anônima mesmo, vão jogar pedra no vazio”. Tem sido um alívio ler os comentários. Quantas mulheres passam e passaram (passarinho e passarão) por situações parecidas! Depois de ver (ler) a reação da maioria, me senti menos só, menos alienígena, anormal, esquisita, freak. Obrigada a todas (os) pela sinceridade!

20 comentários 23/10/2009
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